Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 31 de março de 2018

Marilyn Nelson - Como descobri a poesia ‎

As palavras têm poder, como se costuma afirmar aqui como alhures! E tanto mais se arranjadas de forma elegante para desconstruir preconceitos, intolerâncias, hostilidades, discriminações – assim como a poesia compromissada, de alto poder de transformação, a reverberar fundo na mente de quem a espreita.

Foi com um desses poemas que a escritora negra norte-americana conheceu a própria poesia, ela cuja mãe era professora e que agora se dedica a escrever livros para crianças e adolescentes, didáticos e autoexplicativos, com toda a sutileza para fazer fluir temas relevantes entre o lúdico e o sério.

J.A.R. – H.C.

Marilyn Nelson
(n. 1946)

How I discovered poetry

It was like soul-kissing, the way the words
filled my mouth as Mrs. Purdy read from her desk.
All the other kids zoned an hour ahead to 3:15,
but Mrs. Purdy and I wandered lonely as clouds borne
by a breeze off Mount Parnassus. She must have seen
the darkest eyes in the room brim: The next day
she gave me a poem she’d chosen especially for me
to read to the all except for me white class.
She smiled when she told me to read it, smiled harder,
said oh yes I could. She smiled harder and harder
until I stood and opened my mouth to banjo playing
darkies, pickaninnies, disses and dats. When I finished
my classmates stared at the floor. We walked silent
to the buses, awed by the power of words.

O poder das palavras
(Alejandra Sieder: pintora venezuelana)

Como descobri a poesia

Foi como um beijo n’alma, o modo como as palavras impregnaram
os meus lábios tão logo a Sra. Purdy passou a lê-las em sua secretária.
Todas as crianças já haviam se dispersado uma hora depois das 3:15,
mas a Sra. Purdy e eu vagamos solitariamente como nuvens levadas
por uma brisa do Monte Parnaso. Ela deve ter divisado os olhos
mais nebulosos nas extremidades do recinto. No dia seguinte,
deu-me um poema que havia selecionado especialmente para que
eu o lesse para toda a classe branca ali presente, à minha exceção.
Ela sorriu quando me disse para recitá-lo, sorriu mais ainda quando
me assegurou de que eu o seria capaz. Sorriu cada vez mais forte,
até que me pus de pé e abri minha boca ao banjo para desagravar
os escuros, os negrinhos, os insultos e as cretinices. Quando terminei,
meus colegas de classe miravam o chão. Caminhamos silenciosamente
em direção aos ônibus, impressionados pelo poder das palavras.

Referência:

NELSON, Marilyn. How I discovered poetry. Higgins School of Humanities, Clark University, Worcester (MA), calendar of events: spring 2013, p. 13. Disponível neste endereço. Acesso em: 25 fev. 2018.

sexta-feira, 30 de março de 2018

Eugenio Montale - Traz-me o girassol que eu o transplante

Eis uma invocação para que nos afastemos da materialidade pura e simples, visando ao alcance da essência mesma da iluminação, tornando-nos mais próximos da realidade incorpórea da poesia, ela que transita também pelas sensações da visão e da audição, melhor ainda, pelo amarelo rútilo dos girassóis e pela música que transporta ao reino do desvanecimento.

É no metafórico terreno árido da alma, queimada pelo sol, que o poeta deseja transplantar algo tão vívido quanto o aludido girassol, com potencial para conferir relevo às manifestações do plano espiritual, em detrimento das forças orgânicas do corpo físico, o qual, com a idade, avança para a consumação de suas funções.

J.A.R. – H.C.

Eugenio Montale
(1896-1981)

Portami il girasole ch’io lo trapianti

Portami il girasole ch’io lo trapianti
nel mio terreno bruciato dal salino,
e mostri tutto il giorno agli azzurri specchianti
del cielo l’ansietà del suo volto giallino.

Tendono alla chiarità le cose oscure,
si esauriscono i corpi in un fluire
di tinte: queste in musiche. Svanire
è dunque la ventura delle venture.

Portami tu la pianta che conduce
dove sorgono bionde trasparenze
e vapora la vita quale essenza;
portami il girasole impazzito di luce.

O pintor de girassóis
(Paul Gauguin: pintor francês)

Traz-me o girassol que eu o transplante

Traz-me o girassol que eu o transplante
no meu terreno queimado de maresia,
e a ansiedade de sua face amarela mostre
aos azuis brilhantes do céu todo dia.

Tendem à claridade as coisas obscuras,
exaurem-se os corpos num decorrer
de tintes: esses em música. Esvaecer
é portanto a ventura das desventuras.

Traz-me tu a planta que conduz
aonde surgem louras de transparências
e evapora-se a vida como essência;
traz-me o girassol enlouquecido de luz.

Referências:

MONTALE, Eugenio. Portami il girasole ch’io lo trapianti / Traz-me o girassol que eu o transplante. Tradução de Renato Xavier. In: __________. Ossos de sépia. Tradução, prefácio e notas de Renato Xavier. São Paulo, SP: Companhia das Letras, jan. 2002. Em italiano: p. 76; em português: p. 77. (Coleção “Prêmio Nobel”)

quinta-feira, 29 de março de 2018

Mia Couto - O bairro da minha infância ‎

O poeta busca romper com a leitura naturalística que fazemos dos fatos, da morte em especial: sua visão contempla apenas o fenecer das coisas, porque as criaturas têm o dom de se reproduzir e, por conseguinte, perdurar no fluxo dos anos, condenando-se à eternidade.

Descreve Couto as suas memórias no bairro onde viveu a infância: são elas fenômenos vivos que persistem nesse lugar que a tudo presenciou, mas que, agora, é um túmulo, enquanto que a interpretação possível do passado, somente o espírito animado é capaz de fazê-la percutir.

J.A.R. – H.C.

Mia Couto
(n. 1955)

O bairro da minha infância

Não são as criaturas que morrem.

É o inverso:
só morrem as coisas.

As criaturas não morrem
porque a si mesmas se fazem.

E quem de si nasce
à eternidade se condena.

Uma poeira de túmulo
me sufoca o passado
sempre que visito o meu velho bairro.

A casa morreu
no lugar onde nasci:
a minha infância
não tem mais onde dormir.

Mas eis que,
de um qualquer pátio,
me chegam silvestres risos
de meninos brincando.

Riem e soletram
as mesmas folias
com que já fui soberano
de castelos e quimeras.

Volto a tocar a parede fria
e sinto em mim o pulso
de quem para sempre vive.

A morte
é o impossível abraço da água.

A terna graça de um dia findo
que a mim jamais retornará
(Walter Langley: pintor inglês)

Referência:

COUTO, Mia. O bairro da minha infância. In: __________. Poemas escolhidos. Seleção do autor. Apresentação de José Castello. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2016. p. 140-141.

quarta-feira, 28 de março de 2018

Pablo Neruda - Castro Alves do Brasil ‎

Decerto Castro Alves não foi um “libertador” com a estatura de um Bolívar, San Martín ou José Martí, mas os seus poemas dedicam-se também a uma grande causa, mais exatamente, à causa abolicionista: é sobre ela que Neruda discorre neste seu poema.

Trata-se de um diálogo hipotético entre os dois poetas que, de fato, não foram contemporâneos, muito embora tenham sofrido as agruras de ver os seus respectivos povos coagidos pelas forças da opressão, a clamar por liberdade, ainda que tardia!

J.A.R. – H.C.

Pablo Neruda
(1904-1973)

Castro Alves del Brasil

Castro Alves del Brasil, tú para quién cantaste?
¿Para la flor cantaste? Para el agua
cuya hermosura dice palabras a las piedras?
¿Cantaste para los ojos, para el perfil cortado
de la que amaste entonces? Para la primavera?

Sí, pero aquellos pétalos no tenían rocío,
aquellas aguas negras no tenían palabras,
aquellos ojos eran los que vieron la muerte,
ardían los martirios aun detrás del amor,
la primavera estaba salpicada de sangre.

– Canté para los esclavos, ellos sobre los barcos
como el racimo oscuro del árbol de la ira
viajaron, y en el puerto se desangró el navío
dejándonos el peso de una sangre robada.

– Canté en aquellos días contra el infierno,
contra las afiladas lenguas de la codicia,
contra el oro empapado en el tormento,
contra la mano que empuñaba el látigo,
contra los directores de tinieblas.

– Cada rosa tenía un muerto en sus raíces.
La luz, la noche, el cielo se cubrían de llanto,
los ojos se apartaban de las manos heridas
y era mi voz la única que llenaba el silencio.

– Yo quise que del hombre nos salváramos,
yo creía que la ruta pasaba por el hombre,
y que de allí tenía que salir el destino.
Yo canté para aquellos que no tenían voz.
Mi voz golpeó las puertas hasta entonces cerradas
para que, combatiendo, la Libertad entrase.

Castro Alves del Brasil, hoy que tu libro puro
vuelve a nacer para la tierra libre,
déjame a mí, poeta de nuestra pobre América,
coronar tu cabeza con el laurel del pueblo.
Tu voz se unió a la eterna y alta voz de los hombres.
Cantaste bien. Cantaste como debe cantarse.

En: “Canto General – Los Libertadores”

Castro Alves
(1847-1871)

Castro Alves do Brasil

Castro Alves do Brasil, para quem cantaste?
Para a flor cantaste? Para a água
cuja beleza diz palavras às pedras?
Cantaste para os olhos, para o perfil cinzelado
da que então amaste? Para a primavera?

Sim, mas aquelas pétalas não tinham orvalho,
aquelas águas negras não tinham palavras,
aqueles olhos eram os que viram a morte,
ardiam ainda os martírios por trás do amor,
a primavera estava salpicada de sangue.

– Cantei para os escravos, eles sobre os navios
como o feixe escuro da árvore da ira
viajaram, e no porto descarregou-se o navio
deixando-nos o peso de um sangue roubado.

– Cantei naqueles dias contra o inferno,
contra as afiadas línguas da cobiça,
contra o ouro empapado no tormento,
contra a mão que empunhava o chicote,
contra os mandantes de trevas.

– Cada rosa tinha um morto em suas raízes.
A luz, a noite, o céu se cobriam de pranto,
os olhos se apartavam das mãos feridas
e era a minha voz a única que enchia o silêncio.

– Eu quis que do homem nos salvássemos,
confiava que a rota passava pelo homem,
e que dali tinha que sair o destino.
Cantei para aqueles que não tinham voz.
Minha voz bateu em portas até então fechadas
para que, combatendo, a Liberdade entrasse.

Castro Alves do Brasil, hoje que teu livro puro
volta a nascer para a terra livre,
deixa-me a mim, poeta da nossa pobre América,
coroar tua cabeça com o louro do povo.
Tua voz se uniu à eterna e alta voz dos homens.
Cantaste bem. Cantaste como se deve cantar.

Em: “Canto Geral – Os Libertadores”

Referência:

NERUDA, Pablo. Castro Alves del Brasil. In: __________. Antología poética. Edición de Rafael Alberti. 1. ed. La Plata, AR: Planeta, nov. 1996. p. 151-152. (Ediciones ‘Planeta Bolsillo’)

terça-feira, 27 de março de 2018

J. W. Goethe - Fausto (Excerto)‎

Já lá se vai quase uma década do bloguinho e somente agora consegui resgatar do completo anonimato a versão que tenho do “Fausto”, de Goethe, submersa que estava no “buraco negro” dos armários de meu apartamento, onde nada encontro com rapidez, dada a insuficiência de espaço para a criação de mais estantes para abrigar meus livros com um mínimo de ordem.

E ao compulsá-la, avistei a passagem abaixo, nele sublinhada quando da leitura da obra, em meados de 1986: para se convencer alguém é necessário que tenhamos convicção e estejamos persuadidos do valor ou da verdade daquilo que tentamos repassar aos nossos interlocutores – ou na metáfora empregada pelo pensador alemão, urge atear fogo à alma para, assim, aspirar à eternidade!

J.A.R. – H.C.

J. W. Goethe
(1749-1832)

Wenn ihr’s nicht fühlt

Wenn ihr’s nicht fühlt, ihr werdet’s nicht erjagen,
Wenn es nicht aus der Seele dringt
Und mit urkräftigem Behagen
Die Herzen aller Hörer zwingt.
Sitzt ihr nur immer! leimt zusammen,
Braut ein Ragout von andrer Schmaus
Und blast die kümmerlichen Flammen
Aus eurem Aschenhäuschen ’raus!
Bewundrung von Kindern und Affen,
Wenn euch darnach der Gaumen steht –
Doch werdet ihr nie Herz zu Herzen schaffen,
Wenn es euch nicht von Herzen geht.

Pegasus
(Yevgenia Nayberg: artista ucraniana)

Aquilo que não sentes

Aquilo que não sentes, não deves pleitear,
É preciso que o queiras tendo a alma em fogo;
Com inspiração sincera o peito a te inflamar
Os corações dominas da assistência logo.
Experimentas pois! O grande tolo clama
Por fazer um ragu para o banquete, e gralha
E sopra para o alto uma franzina chama
Da cinza, no montão, que logo então se espalha!
Adoração das crianças e dos pobres símios,
A quem pode agradar uma tal comezaina?
A prender corações e corações exímios
Só com forças secretas que o teu peito amaina.

(Fala de Fausto em “A Tragédia”:
4ª parte de “Fausto”)

Elucidário:

Ragu – ensopado, guisado;
Comezaina – comilança, rega-bofe.

Referências:

Em Alemão

GOETHE, Johann Wolfgang von. Wenn ihr’s nicht fühlt. In: __________. Faust. Disponível neste endereço. Acesso em: 19 jan. 2018.

Em Português

GOETHE, Johann Wolfgang von. Aquilo que não sentes. Tradução de Sílvio Meira. In: __________. Fausto & Werther. Tradução, notas e posfácio de Sílvio Meira para ‘Fausto’; tradução de Galeão Coutinho para ‘Werther’. São Paulo, SP: Círculo do Livro, 1995. p. 36.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Carlos Ávila - Túmulo do Poeta Desconhecido ‎

Se há espaço para se dedicar um túmulo ao soldado desconhecido – como o existente no Arco do Triunfo, em Paris –, por qual motivo não haveria, do mesmo modo, um túmulo para o poeta desconhecido, neste caso, as prateleiras do esquecimento de uma biblioteca qualquer, esporadicamente visitada pelos leitores?!

É lá que o poeta “repousa em paz”, ou melhor, a sua lírica, enclausurada nas páginas dos tomos que logrou oferecer ao prelo. Outra imagem poderia ser a de obras poéticas mal-agasalhadas entre os armários de uma repartição pública: tantos são os poetas num só, e sendo tantos não é nenhum, anônimo na lista telefônica das cidades, translucidamente bêbado nos fundos de um bar, nesse mar absoluto que é o nada...

J.A.R. – H.C.

Carlos Ávila
(n. 1955)

Túmulo do Poeta Desconhecido

uma brochura
que mal se sustenta de pé
na biblioteca pública
de uma cidadezinha qualquer

as páginas amareladas
de uma antologia
com trezentos e tantos
tantos tantos “poetas”

um título
perdido
(muito cedo, muito cedo)
nas prateleiras de um sebo

apenas um nome
(nowhere man)
na babilônica
lista telefônica

numa obscura
repartição pública
(beneficência da língua portuguesa)
sem cura

um bardo bêbado
no fundo do bar
olhando pro nada
e pensando que é o mar

no tumulto da vida – o túmulo
requiescat in pace
& não volte jamais

A Biblioteca de Thorvald Boeck
(Backer Harriet: pintor norueguês)

Referência:

ÁVILA, Carlos. Túmulo do poeta desconhecido. In: DANIEL, Claudio; BARBOSA, Frederico (Organização, Seleção e Notas). Na virada do século: poesia de invenção no Brasil. São Paulo, SP: Landy, 2007. p. 96.

domingo, 25 de março de 2018

Julian Bond - O Bispo de Atlanta: Ray Charles ‎

Ao vasculhar históricos de álbuns antigos na internet, encontrei o poema abaixo num deles: uma homenagem do ativista social negro e líder do movimento de direitos civis norte-americano, Julian Bond, ao também negro e norte-americano, o cantor e pianista Ray Charles.

Como muitos outros jovens afro-descendentes, Bond foi influenciado pela combinação da música ‘gospel’ com o ‘blues’, e isso explica os epítetos empregados pelo poeta a Charles: Bispo, Reverendíssimo, uma espécie de “Sumo Sacerdote da Alma” a sacralizar as próprias lágrimas.

J.A.R. – H.C.

Julian Bond
(1940-2015)

The Bishop of Atlanta: Ray Charles

The Bishop seduces the world with his voice
Sweat strangles mute eyes
As insinuations gush out through a hydrant of sorrow
Dreams, a world never seen
Moulded on Africa’s anvil, tempered down home
Documented in cries and wails
Screaming to be ignored, crooning to be heard
Throbbing from the gutter
On Saturday night
Silver offering only
The Right Reverend’s back in town
Don’t it make you feel all right?

Ray Charles & Elton John
Sorry Seems to Be the Hardest Word (2004)

O Bispo de Atlanta: Ray Charles

O Bispo seduz o mundo com sua voz.
O suor embarga os olhos mudos
Como insinuações a jorrar através de um hidrante de dor
E sonhos, um mundo nunca visto,
Moldado na bigorna de África, moderado em casa,
Documentado em prantos e lamentos.
Ele grita para ser ignorado, canta para ser ouvido.
Agita-se desde o gueto,
No sábado à noite,
Somente por uma oferenda de prata.
O Reverendíssimo está de volta à cidade.
Isso não lhe faz sentir-se bem?

Referência:

BOND, Julian. The bishop of Atlanta: Ray Charles. In: CASH BOX. Cash Box Pub. Co., september 4, 1971, n. 89, v. 33, p. 55. Disponível neste endereço.

sábado, 24 de março de 2018

Vasko Popa - O Erro Arrogante ‎

Popa, grande poeta sérvio, imagina a criação do mundo como um acidente: um erro bobo e pequeno com o poder de engendrar o domínio espaço x tempo. E a par disso, um erro bobo e pequeno pode ser agravado por outros tantos em série, numa vã tentativa de se corrigir o erro inicial, até o problema atingir gigantescas proporções.

E como todas as decisões representam opções por determinadas alternativas, teria sido tudo tão diferente se a persistência no erro não houvesse se tornado uma obsessão, agora uma progressão geométrica divergente, rastro que se expande aos quatro cantos do universo...

J.A.R. – H.C.

Vasko Popa
(1922-1991)

Охола Грешка

Била једном једна грешка
Тако смешна, тако мала
Да је нико не би приметио

Али сама себе није хтела
Ни да гледа ни да чује

Шта све није измислила
Не би ли доказала
Да у ствари не постоји

Измислила је простор
Доказе своје у њега да смести
И време да јој доказе чува
И свет да јој доказе види

Све што је измислила
Није било ни тако смешно
Ни тако мало
Али је наравно било погрешно

Је ли могло бити другачије

Acima do Nível do Mar
(Vladimir Kush: pintor russo)

O Erro Arrogante

Era uma vez um erro
Tão pequeno tão ridículo
Que ninguém o teria notado

Mas nem ele mesmo
Queria ver-se ouvir-se
Inventou de tudo
Só para provar
Que a rigor não existia

Inventou o espaço
No qual expor as suas provas
E o tempo que guardasse as suas provas
E o mundo para ver as suas provas

Tudo o que inventou
Não era nem tão ridículo
Nem tão pequeno
Mas era é claro errado

Poderia ter sido diferente

Referências:

Em Sérvio

ПОПА, Васко. Охола грешка. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 mar. 2018.

Em Português

POPA, Vasko. O erro arrogante. Tradução de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Tradução e Organização). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. p. 330. (Coleção “Lazuli”)