Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

W. S. Di Piero - Esse é o Momento

Lá pelas tantas da madrugada, na denominada calada da noite, o poeta experimenta em seus ouvidos a inércia dos ruídos que fazem a sequência das horas do dia, lembranças que surgem como ecos a reverberar, ainda que, de fato, poucos sejam os sons audíveis, como o barulho do refrigerador ou o rumorejar das árvores a balançar.

Imagino que, na terceira estrofe do poema – se outro não for o sentido –, o poeta alude ao personagem Cherubino (Querubim), da ópera “As Bodas de Fígaro”, de Mozart, o qual, em uma das árias, afirma que o amor lhe revolve o espírito, quer esteja acordado quer sonhando, e todas as suas exortações levam-nas para longe as fontes e os ventos.

J.A.R. – H.C.

W. S. Di Piero
(n. 1945)

It’s That Time

The silence of night hours
is never really silent.
You hear the air,
even when it doesn’t stir.
It’s a memory of the day.
Nothing stirs. Memory lags.
No traffic hushing up
and down tricky hills
among the camphor trees.

No foghorns, no streetcars’
shrilling phantoms before
they emerge from tunnels.
These absences keep us alert.
No rain or street voices,
nobody calling to someone else,
Hannah, you walk the dog
tonight yet or what?

Only certain things to hear:
The sexy shifting of trees,
the refrigerator buzzing
while Cherubino sings
the best of love is enthusiasm’s
intense abandon, a voice
in song that preys on no one
and is unconscious of its joy.

O Silêncio da Noite
(Johan Knutson: pintor sueco)

Esse é o Momento

A calada das horas noturnas
nunca é realmente silenciosa.
Você escuta o ar,
mesmo quando não se move.
É uma recordação do dia.
Nada se agita. A recordação protrai-se.
Nenhum tráfego sibilante no sobe e
desce rumo às intricadas colinas
entre as canforeiras.

Nenhuma sirene de névoa, nem estridulantes
espectros de trólebus antes
que emerjam dos túneis.
Nenhuma chuva ou vozes de rua,
Essas ausências mantêm-nos alerta.
Ninguém ligando para outra pessoa,
Hannah, você leva o cão para passear
ainda esta noite?

Apenas certas coisas para ouvir:
o movimento sensual das árvores,
o zumbido do refrigerador,
enquanto o Cherubino entoa
que o melhor do amor é o intenso
abandono do entusiasmo, uma voz
na canção, inconsciente de sua alegria
e que a ninguém perturba.

Referência:

DI PIERO, W. S. It’s that time. Poetry Magazine, Chicago, IL: Poetry Foundation, v. 198, n. 1, p. 25, apr. 2011.

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