Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Henri Cole - Peônias

O prazer sadomasoquista aparece neste poema metaforizado na figura das peônias, talvez pela associação de sua cor às lacerações sobre a carne a verter sangue, provocadas por chicotes ou outros instrumentos de tortura, ou mesmo em razão do aspecto de seus folíolos ou lóbulos, como o das mucosas que conformam o órgão sexual feminino.

Cole dirige-se a um não limitado público que se dedica a expressar o mencionado tipo de prazer, próximo à bestialidade pura, distorcendo o propósito maior do sexo, enquanto expressão do amor autêntico que alguém é capaz de sentir por outrem.

A propósito, o tema, que na obra maior de Proust – “À Procura dos Tempos Perdidos” (“À la Recherche du Temps Perdu”) (1923) –, mais exatamente no tomo “Sodoma e Gomorra”, aparece na prática sadomasoquista do invertido Barão de Charlus, retornou aos dias de hoje, com a publicação do livro “Cinquenta Tons de Cinza” (“Fifty Shades of Grey”) (2011), da autora inglesa Erika Leonard James, levado às telas do cinema, em 2015, sob a direção de Sam Taylor-Wood.

J.A.R. – H.C.

Henri Cole
(n. 1956)

Peonies

Ample creamy heads beaten down vulgarly,
as if by some deeply sado-masochistic impulse,
like the desire to subdue, which is normal and active,
and the desire for suffering, which is not;
papery white featherings stapled to long stalks,
sopped with rain and thrown about violently,
as Paul was from his horse by the voice of Christ,
as those he judged & condemned were, leaving the earth;
and, deeper in, tight little buds that seem to blush
from the pleasure they take in being submissive,
because absolute humility in the face of cruelty
is the Passive’s way of becoming himself;
the groan of it all, like a penetrated body –
those of us who hear it know the feeling.

Peônias
(Julian Merrow-Smith: pintor inglês)

Cabeças cremosas à farta vulgarmente dominadas,
como que por algum impulso deveras sadomasoquista,
a aliar o desejo por subjugar, que é normal e ativo,
ao desejo por martirizar-se, que não é;
Plumas brancas, finas como papel, grampeadas em longas hastes,
empapadas pela chuva e atiradas à volta com violência,
como Paulo o foi de seu cavalo pela voz de Cristo;
como o foram os que ele julgou e condenou, ao deixar a terra;
e, mais ao cerne, firmes e miúdos brotos que parecem ruborizar
pelo prazer que desfrutam em ser submissos,
porque a humildade absoluta frente à crueldade
é o modo Passivo de converter-se em si mesmo;
o gemido disso tudo, como um corpo penetrado –
aqueles de nós que o ouvimos conhecem a sensação.

Referência:

COLE, Henri. Peonies. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 578.

Nenhum comentário:

Postar um comentário