Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Kenneth Koch - Permanentemente

Num poema com muita improvisação e humor, o poeta concebe um franco diálogo entre a linguagem e os sentimentos amorosos, permitindo ao leitor inúmeras interpretações, mesmo à vista de sua nítida pretensão em mostrar que a experiência poética pode ser deduzida de um ponto de vista lúdico, desafiando as noções mais corriqueiras sobre o tema.

Kock nos instiga a questionar a subsistência da linguagem e o seu potencial para engendrar novos significados, ampliando assim as alternativas e inferências por ela colocadas a serviço da escrita poética: que haja permanência do amor enquanto a linguagem mostrar constância!

J.A.R. – H.C.

Kenneth Koch
(1925-2002)

Permanently

One day the Nouns were clustered in the street.
An Adjective walked by, with her dark beauty.
The Nouns were struck, moved, changed.
The next day a Verb drove up, and created the Sentence.

Each Sentence says one thing – for example, “Although it was a dark
rainy day when the Adjective walked by, I shall remember the
pure and sweet expression on her face until the day I perish
from the green, effective earth.”
Or, “Will you please close the window, Andrew?”
Or, for example, “Thank you, the pink pot of flowers on the window
sill has changed color recently to a light yellow, due to the heat
from the boiler factory which exists nearby.”

In the springtime the Sentences and the Nouns lay silently on the grass.
A lonely Conjunction here and there would call, “And! But!”
But the Adjective did not emerge.

As the Adjective is lost in the Sentence,
So I am lost in your eyes, ears, nose, and throat –
You have enchanted me with a single kiss
Which can never be undone
Until the destruction of language.

(1962)

O Beijo
(Francesco Hayez: pintor italiano)

Permanentemente

Um dia os Substantivos estavam amontoados na rua.
Um Adjetivo passou por lá, com sua negra beleza.
Os Substantivos ficaram impressionados, comovidos, transformados.
No dia seguinte um Verbo deu-lhes carona, criando a Oração.

Cada Oração afirma uma coisa – por exemplo, “Embora fosse um dia
cinzento e chuvoso quando o Adjetivo por lá passou, lembrarei da
expressão pura e doce em sua face até o dia em que eu desapareça
desta Terra verde e fecunda.
Ou, “André, você poderia fechar a janela, por favor?”
Ou, por exemplo, “Obrigado, o róseo das flores no vaso sobre o peitoril
da janela alterou-se recentemente para um amarelo claro, em razão
do calor emitido pela caldeira de uma fábrica vizinha.”

Na primavera, as Orações e os Substantivos estendem-se silenciosamente
sobre a grama.
Uma solitária conjunção, aqui e ali, exclamaria. “E! Porém!”
Contudo o Adjetivo não há de aparecer.

Tal como o Adjetivo perdido na Oração,
Estou perdido em teus olhos, orelhas, nariz e garganta –
Encantaste-me com um único beijo
Que nunca se poderá desfazer
Até que a linguagem se destrua.

(1962)

Referência:

KOCH, Kenneth. Permanently. In: HOOVER, Paul (Ed.). A postmodern american poetry: a norton anthology. New York, NY: W. W. Norton & Company Inc., 1994. p. 112.

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