Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 21 de maio de 2017

Rita Dove - Canário

Dove, segundo se divulga, uma das poetisas preferidas do ex-presidente norte-americano Barack Obama, tenta capturar a essência do jazz, por meio da performance de improviso de uma de suas maiores representantes: Billie Holiday.

Vê-se no poema a indissimulável conexão entre palavra e som, poesia e melodia, para descrever a cantora do ritmo negro por excelência e suas dramáticas experiências de vida, com altos e baixos que se metaforizam na singularidade de sua própria voz inimitável, carregada de luzes e sombras: um canário confinado numa gaiola!

J.A.R. – H.C.

Rita Dove
(n. 1952)

Canary

For Michael S. Harper

Billie Holiday’s burned voice
had as many shadows as lights,
a mournful candelabra against a sleek piano,
the gardenia her signature under that ruined face.

(Now you’re cooking, drummer to bass,
magic spoon, magic needle.
Take all day if you have to
with your mirror and your bracelet of song.)

Fact is, the invention of women under siege
has been to sharpen love in the service of myth.

If you can’t be free, be a mystery.

Aves Escapando da Gaiola
(Jo Frederiks: artista australiana)

Canário

Para Michael S. Harper

A voz inflamada de Billie Holiday
possuía tanto sombras quanto luzes,
um lúgubre candelabro contra um piano lustroso,
sua rubrica a gardênia sob aquele rosto arruinado.

(Agora muito te esmeras, do baterista ao baixo,
colher mágica, mágica agulha.
Toma todo o dia se te aprouver
com teu espelho e teu bracelete de canto.)

O fato é que a invenção das mulheres sob assédio
tem servido para aguçar o amor a serviço do mito.

Se não podes ser livre, sê um mistério.

Referência:

DOVE, Rita. Canary. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 560.

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