Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Machado de Assis - Círculo Vicioso

A insatisfação em ser aquilo que se é. Se se é pequeno, o desejo é ser grande. Caso já se seja grande, a pretensão é ser maior ainda. E se atingido o tamanho da grandeza absoluta, volta-se ao ponto inicial, desejando-se o ‘status minimorum’, num ciclo sem fim.

O soneto de Machado recordou-me a letra de “Quereres”, do álbum de 1984, do compositor Caetano Veloso: nunca estamos em paz com o estado das coisas. “Eu te quero – e não queres – como sou / Não te quero – e não queres – como és / (...) Ah! Bruta flor do querer / Ah! Bruta flor, bruta flor”.

J.A.R. – H.C.

Machado de Assis
(1839-1908)

Círculo Vicioso

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
– “Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

– “Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!”
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

– “Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!”
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

– “Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume? »

Em: “Ocidentais” (1880)

Quereres: Caetano Veloso
Velô (1984)

Referência:

ASSIS, Machado de. Círculo vicioso. In: __________. Poesias completas. 1.ed. Rio de Janeiro, RJ: H. Garnier, Livreiro-Editor, 1901. p. 292.

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