Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 28 de maio de 2017

Hilda Hilst - Passeio 15 - Trajetória Poética do Ser

O problema de re(construir) a si próprio tendo o próximo como espelho, numa espiral que promove o surgimento de uma treva perpétua de dor, da qual resulta a construção de realidades amenas voltadas apenas a satisfazer uns “olhos duros”: eis o infortúnio que inquieta a poetisa...

E tal perspectiva também é válida para os outros em relação a cada um de nós: os olhos que nos contemplam esperam reciprocidade, levando à exaustão os nossos mananciais e reforçando a espiral que nos cerceia a liberdade plena.

J.A.R. – H.C.

Hilda Hilst
(1930-2004)

Passeio 15 - Trajetória Poética do Ser

De delicadezas me construo. Trabalho umas rendas
Uma casa de seda para uns olhos duros.
Pudesse livrar-me da maior espiral
Que me circunda e onde sem querer me reconstruo!
Livrar-me de todo olhar que quando espreita, sofre
O grande desconforto de ver além dos outros.
Tenho tido esse olhar. E uma treva de dor
Perpetuamente.
Do êxodo dos pássaros, do mais triste dos cães,
De uns rios pequenos morrendo sobre um leito exausto.
Livrar-me de mim mesma. E que para mim construam
Aquelas delicadezas, umas rendas, uma casa de seda
Para meus olhos duros.

Um Mundo no Íntimo
(Jim Warren: artista norte-americano)

Referência:

HILST, Hilda. Passeio 51 - Trajetória poética do ser. Exercícios. In: __________. Uma superfície de gelo ancorada no riso: antologia de Hilda Hilst. Seleção, organização e apresentação de Luisa Destri. São Paulo, SP: Globo, 2012. p. 52.

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