Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 7 de maio de 2017

Álvaro Pacheco - Os Poetas

O político e poeta piauiense Álvaro Pacheco teoriza sobre os poetas, certamente com conhecimento de causa (rs): os vates são frios e incapazes do amor. Por trás de seus devaneios e truques semânticos, conseguem disfarçar essa frieza e as paixões que os devoram.

Observe-se que Pacheco menciona alguns poetas num rol inusitado. Afinal, não consta que Cristo e Van Gogh fossem poetas. Se no poema emergem os seus nomes é porque, no sentido lato proposto pelo autor, poeta é todo aquele capaz de elucubrar “as ficções e os amores coletivos”. E então? Cristo e Van Gogh chegaram a tanto?!

J.A.R. – H.C.

Álvaro Pacheco
(n. 1933)

Os Poetas

Os poetas
como os profetas
têm o coração frio
e são
incapazes do amor.

Por isso Ezra Pound, Fernando Pessoa, Cristo,
Vincent Van Gogh – os poetas
elucubram as ficções
e os amores coletivos –
se intrometem nas revoluções
e falam demais – por isso
têm o coração frio
para suportar as pessoas
e as suas aflições do abismo,
o sofrimento e a morte,
a matéria-prima
dos devaneios e truques semânticos
com que disfarçam
a frieza e o sem fim
das paixões que os atormentam

como aos profetas.

Rio, julho 86.

O Pub dos Poetas
(Alexander Moffat: pintor britânico)

Referência:

PACHECO, Álvaro. Os poetas. In: __________. A geometria dos ventos. Estudo pela Profª Teresa Velho. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1992. p. 102.

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