Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 16 de julho de 2013

Rubén Darío (1867-1916) – Poeta Nicaraguense



O Fatal

Ditoso o vegetal, que é apenas sensitivo,
e mais a dura pedra, esta porque nem sente,
pois não há dor maior do que a dor de estar vivo,
nem maior aflição do que a vida consciente.

Ser, e não saber nada, e ser sem rumo, a esmo,
e o temor de haver sido, e um futuro terror...

E o firme espanto de estar morto amanhã mesmo,
e sofrer pela vida e pela sombra e por
aquilo que, ignorando, apenas suspeitamos,
pela carne a tentar com seus frescos racimos,
pela tumba que aguarda com seus fúnebres ramos,
e não sabermos aonde vamos,
nem donde vimos...

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (Sel. e Trad.). Grandes vozes líricas hispano-americanas. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. p. 371.

J.A.R. - H.C.

Homero Icaza Sánchez (1925-2011) - Poeta Panamenho


Natureza-Morta com Limão Descascado
(Van Dyck: pintor holandês)

Natureza-Morta

Sobre a mesa:
uma faca,
duas maçãs
e duas peras,
um pato degolado
e um feixe de cebolas.
E tu ao pé da mesa.
– Natureza-morta?

Referência:

SÁNCHEZ, Homero Icaza. Natureza-morta. Tradução de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (Sel. e Trad.). Grandes vozes líricas hispano-americanas. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. p. 117.

J.A.R. - H.C.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Eduardo Carranza (1913-1985) – Poeta Colombiano




Azul de Ti

Pensar em ti é azul, como ir vagando
por um bosque dourado ao meio-dia:
desabrocham jardins na fala minha,
com minhas nuvens por teus sonhos ando.

E nos une e separa um vento brando,
uma distância de melancolia;
alço os braços de minha poesia,
azul de ti, dolorido e esperando.

É como um horizonte de violins
ou um tíbio sofrimento de jasmins
pensar em ti, de azul temperamento.

O mundo se me volve cristalino,
e miro-te, entre lâmpadas de trino,
azul domingo do meu pensamento.

Referência:

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (Sel. e Trad.). Grandes vozes líricas hispano-americanas. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. p. 71.

J.A.R. - H.C.

sábado, 13 de julho de 2013

Amado Nervo (1870–1919) – Poeta Mexicano




Em Paz

Já bem perto do ocaso, eu te bendigo, ó Vida,
porque nunca me deste esperança mentida,
nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.

Porque vejo, ao final de tão rude jornada,
que a minha sorte foi por mim mesmo traçada;
que, se extraí os doces méis ou o fel das cousas,
foi porque as adocei ou as fiz amargosas:
quando eu plantei roseiras, eu colhi sempre rosas.

...Decerto, aos meus ardores, vai suceder o inverno:
Mas tu não me disseste que maio fosse eterno!
Longas achei, confesso, minhas noites de penas;
Mas não me prometeste noites boas, apenas,
E em troca tive algumas santamente serenas…

Fui amado, afagou-me o Sol. Para quê mais?
Vida, nada me deves! Vida, estamos em paz!

Referência:

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (Seleta e Tradução). Grandes vozes líricas hispanoamericanas. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. p. 37.

J.A.R. - H.C.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Francisco González León (1862-1945) - Poeta Mexicano




Despertares

Ó despertares de manhãs provincianas
com chamadas para a missa,
em que os sinos vão
lentos ou violentos
conforme a pressa
do sacristão!

Madrugadas em que estão
com sol, unicamente,
a torre paroquial e o campanário;
mas ao meio-dia
as ruas, os subúrbios, como a via,
se atapetam de um ouro coronário.

Compaginadas à janela órfã
à qual a alma não assomará,
porque aquele já não veio,
porque aquele voltou a meio do caminho
e aquele já não virá;
compaginadas vão
as silenciosas sestas
em que o vento não corre.
Tão caladas que se ouve até o arrulho
das pombas lá na torre.

Casamenteiras visões
de amplas casas solteironas:
geleias, e goiabadas
que sabem a mel de abelhas;
suaves doces em calda
guardados na despensa a sete chaves.

O caseiro lindante com o triste:
as histórias caladas,
as janelas fechadas,
o pátio onde a umidade inda persiste,
os corredores amplos e achatados,
gatos intrometidos e mimados,
e canários mais louros do que o alpiste.

Referência:

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (Seleta e Tradução). Grandes vozes líricas hispanoamericanas. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. p. 97-99.

J.A.R. - H.C.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Brasil: Tetracampeão da Copa das Confederações

Jogando um futebol aplicado, com determinação e maior poder de finalização que o seu adversário, além de contar com boa dose de sorte, a Seleção Canarinho mostrou a sua força, com poder de recuperação que nem o mais otimista de seus torcedores seria capaz de imaginar.

O resultado de ontem, Brasil 3 x 0 Espanha, pode assombrar aqueles que não assistiram ao jogo. Mas, no plano das meras propensões, a julgar pelo ocorrido em semifinais de torneios internacionais, era quase certo que, ao fim, a Amarelinha lograsse tal êxito.

Digo isso pautado no histórico de jogos em que times, contra os quais seus adversários pelejaram na semifinal até a prorrogação do jogo, acabaram por ter sucesso na decisão, no mais das vezes com placares elásticos. Senão vejamos:

  • Copa de 70: semifinal em que a Itália jogou prorrogação contra a Alemanha e, na final, perdeu para o Brasil por 4 x 1;

  • Copa de 82: semifinal em que a Alemanha pelejou na prorrogação contra a França e, ao final, sucumbiu por 3 x 1 para a Itália; e

  • Copa de 98: semifinal em que o Brasil jogou prorrogação contra a Holanda e, na final, caiu fragorosamente para a França por 3 x 0;

Portanto, os 3 x 0 de ontem não chegam a ser, assim, tão inesperados.

  
Quanto ao futebol jogado pela Espanha, parece-me que chegou ao limite de suas possibilidades, pautadas estas pela proposta de toque de bola à exaustão. Perceba-se que o Barcelona, base do time europeu, já passou, neste ano, a sua segunda temporada sem chegar às finais da Copa dos Campeões.

Tal fato sugere que os seus adversários atingiram um ponto de acomodação para sustentar quaisquer pressões por posse de bola, tornando-se mais eficazes – e aqui vai um termo com o sentido bem afeito à esfera da administração! – que o elenco catalão, no plano das finalizações ao gol.

Com efeito, é eloquente os 7 x 0, no placar agregado, imposto recentemente pelo Bayern de Munique ao Barcelona, como que a ratificar a tese de que este, sem contar com a contribuição decisiva de Messi, nivela-se a qualquer outro time. Aliás, é notória a contribuição do argentino para as conquistas do Barcelona: sem ele, pouco ou nada feito!

Entretanto, não é bem assim: o Barcelona e, por extensão, a seleção espanhola, detém ainda um poder de toque de bola incontrastável, embora prescinda de poder de ataque para materializar no placar a sua supremacia. Isto é: trata-se de um time eficiente, com limitada eficácia. Os números da Copa de 2010 confirmam essa hipótese: venceu três mata-matas por 1 x 0, inclusive a final contra a Holanda.

Transitando agora para o material humano disponível, nota-se que o elenco espanhol, sob a ótica deste observador, possui apenas dois jogadores acima da média: Iniesta e Xavi. Os demais jogadores são atletas com perfil normal. É o mencionado toque de bola que faz a força de seu envolvente futebol.

Por fim, resta um derradeiro comentário: o fato de o Brasil haver vencido a Copa das Confederações 2013 não o torna favorito para a Copa de 2014. Faltam ainda, a serem melhor analisadas, as seleções da Alemanha e da própria Argentina. Brasil, Itália e Espanha bem já o vimos!

Esperemos até lá.

J.A.R./H.C.