Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Mediações Hedonistas - Parsons e Poe - Muito Prazer em Conhecê-los !

Quando, ainda em 1975, Alan Parsons lançou o compacto de abertura de seu projeto para divulgação do "rock progressivo" - o denominado Alan Parsons Project -, jamais imaginaria que poderia criar um disco à altura da fama que lhe sobreveio por haver também produzido uma das mais inesquecíveis obras do grupo Pink Floyd, qual seja, The Dark Side of the Moon.

Referimo-nos a Tales of Mystery and Imagination, com letras e músicas livremente concebidas à luz dos contos de horror e de suspense de Allan Poe, que se mantém como um meritório contributo à memória do autor americano.

Percebe-se, já na própria apresentação da faixa inicial A Dream a Within a Dream, a pretensão de transformar em música certas "fantasias delicadas" que, por não constituírem pensamentos, são irredutíveis aos signos linguísticos, como se fossem, mesmo num plano de realidade, um sonho imbricado em outro sonho.



Outras duas faixas fazem referência direta a dois dos mais famosos contos de Poe - The Raven (O Corvo) e The Cash of Amontillado (O Barril de Amontilado) -, estando muito bem adaptadas às letras imaginosas, como a provar que literatura e música podem muito bem combinar-se para aumentar a estatura do prazer usufruível, por intermédio do incremento gestáltico de nossas experiências sinestésicas, experiências essas que, de outro modo, permaneceriam "estanques" ao que pudéssemos extrair, de cada vez, aos nossos "olhos ou ouvidos atentos".

Pena mesmo é que os sentidos do olfato e do paladar não tenham se juntado mais prontamente ao acervo cada vez mais sincrético das artes, ainda que, marginalmente, aqui ou ali, apareçam obras que os combinem maravilhosamente bem, para colocá-los em evidência.

A conjugar visão e audição, para produzir estímulos gustativos poderosos, mencionaria o filme A Festa de Babette, de Gabriel Axel (1987). Quanto ao impacto - positivo ou negativo - do olfato, quem poderia se esquecer de O Perfume, de Tom Tykwer (2006), com roteiro adaptado ao livro homônimo do escritor alemão Patrick Süskind, publicado em 1985 ?!

(JAR/HC)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Stanley Kubrick - De Olhos Bem Fechados

Outro filme a que assisti, no breve interregno que marcou o recesso do final de 2009, foi "De Olhos Bem Fechados" (Eyes Wide Shut, 1999), o último longa de Stanley Kubrick.

Trata-se de uma adaptação livre do romance "Breve Romance de Sonho" (Die Traumnovelle, 1926), do escritor austríaco Arthur Schnitzler, a quem Sigmund Freud denomina como sendo o seu "duplo", tanto é o paralelo entre ambos na busca de compreender - ou seria explicar ? - o inconsciente e as profundezas da alma humana.

A trama, centrada no relacionamento de um casal em crise - embora bem aquinhoado, seja pelos atributos físicos seja pelos dotes materiais, afinal, os atores são nada menos que Tom Cruise e Nicole Kidman -, transita por desejos e apelos sensuais reprimidos ou mal-resolvidos, misteriosas bacanais e vaticínios mortais.

A firme direção de Kubrick permitiu um alongamento algo desproporcional do roteiro frente ao próprio texto em que se inspirou, afirme-se, mais próximo da novela que do romance, no sentido lato do termo. Mas nada que deixe o espectador transido pelo tédio, pois a linguagem cinematográfica, apesar de suas limitações, fomenta, com mais propriedade, o voluptuoso despertar dos sentidos, tanto maior quando derivado de pulsões sexuais explicitamente filtradas pelo enredo.

Sob o "pecado" da pornografia, a história do autor austríaco foi por demais censurada na Viena ainda puritana da primeira metade do Século XX. Quanto à adaptação de Kubrick, a despeito das imagens impactantes, certamente não há escândalos que a película possa provocar em nossa sociedade sem contenções morais, sendo apenas mais uma no conjunto da obra do autor americano, permeada de polêmicas e controvérsias, pelo que bastam as menções de "A Laranja Mecânica" e de "Lolita", dois outros filmes também adaptados de renomados romances.

Ler os livros a que me referi ou ver os filmes de Kubrick são ganhos imperdíveis.

(JAR/HC)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Torcidas dos Principais Clubes Nacionais

O Datafolha divulgou, recentemente, o resultado de mais uma pesquisa sobre as preferências clubísticas dos torcedores pátrios. A princípio, cumpre informar que o resultado está atrelado ao universo de torcedores com dezesseis (16) anos ou mais - como se não houve fãs do futebol com idade menor a essa ! -, atribuindo-se margem de erro, em relação aos números assim obtidos, de apenas 2%.

Foram entrevistados 11.258 torcedores na mencionada faixa etária, entre os dias 14 e 18/12/09, acarretando a obtenção dos seguintes percentuais, por renda e por nível de instrução:





Sublinhe-se, de início, que os números sob a cor azul foram obtidos a partir do total de torcedores entrevistados, classificados em cada faixa de renda ou grau de instrução, conforme se pode consultar no endereço eletrônico do próprio Datafolha, indicado ao final desta postagem.

Verifica-se, no que tange à distribuição associada à renda familiar, que os resultados alcançados, de certa forma, refletem a concentração de renda no seio da própria sociedada brasileira. Números do último PNAD (2008) evidenciam que 59,7% da população do país encontra-se na classe "E", vale dizer, exatamente aquela que aufere renda de até dois (2) salários mínimos. Eis a razão pela qual o Brasil apresenta um dos piores coeficientes de Gini do mundo - 0,544 (valor de 2008, divulgado em 2009) -, sendo que o valor 1,0 representaria concentração absoluta de renda.

De todo modo, o que se revela pelas tabelas acima ratifica o que foi amplamente noticiado pelo "Estadão" (vide endereço eletrônico nas referências), segundo o qual a torcida do Flamengo pertenceria, majoritariamente às classes de renda "D" e "E", à luz de pesquisa empreendida pela firma Crowe Horwath RCS. Com efeito, 45% da torcida rubronegra detém renda de até dois salários mínimos - e nenhum outro clube brasileiro de expressão possui, individualmente, percentual maior. No quesito "nível de instrução", o percentual não é menos expressivo, ou seja, 44% com escolaridade fundamental - embora haja quem o possua maior -, no caso o Internacional (51%) e o Vasco da Gama (45%).

Os números falam por si mesmos, o que não significa que não sejam passíveis de rearranjos, especulações  ou críticas, haja vista que percentuais obtidos por alguns clubes ficam integralmente cobertos pela própria margem de erro da pesquisa, do que decorre ser contraproducente quaisquer inferências mais contundentes.

Outras conclusões que podem ser extraídas da pesquisa do Datafolha:
(i) o Flamengo é o time com maior torcida no universo pesquisado (19%), seguido pelo Corinthians (13%);
(ii) nas regiões Sudeste e Sul, entretanto, o Corinthians tem maior preferência que o clube carioca (19% a 15% no Sudeste; 10% a 7% no Sul);
(iii) Flamengo e Corinthians têm universo de fãs quase nulo em Porto Alegre (RS), onde Internacional (43%) e Grêmio (47%) dominam, seguidos pelos entrevistados que responderam não possuir atração por clube algum (8%);
(iv) Belo Horizonte é outra cidade em que a influência dos times de São Paulo e do Rio de Janeiro mostra-se menos acentuada, pois Cruzeiro (43%), Atlético-MG (30%) ou nenhum clube (19%) configuram a maioria das menções entre os pesquisados; e
(v) clubes paulistas têm baixa preferência na cidade do Rio de Janeiro e vice-versa, como era de se esperar.

(JAR/HC)

Referências:

Datafolha:
http://datafolha.folha.uol.com.br/po/tabelas.php?Tab_relatorio=936

Estadão:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091227/not_imp487321,0.php

O Globo:
http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Times/Flamengo/0,,MUL1434675-9865,00-TORCIDAS+FLA+LIDERA+TAMBEM+RANKING+DE+ESCOLARIDADE+E+RENDA+FAMILIAR.html

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Filme: Amantes ("Two Lovers" - EUA - 2008)

Ao assistir o filme "Amantes" de James Gray, ao final de 2009, fiquei com a sensação de haver presenciado reprises de alguns pontos já desenvolvidos por outros diretores, seja no melhor seja no pior do que se poderia reproduzir em termos cinematográficos.



A historinha de personagens que sofreram um trauma juvenil ou baque amoroso, sentimental ou de outra ordem é tão recorrente no cinema americano que o flerte destes com a morte, via tentativa de suicídio, já não causa qualquer sensação de espasmo no espectador mais experiente. Relembre-se, por exemplo, o papel interpretado por Timothy Hutton em "Gente como a Gente", filme ganhador do Oscar em 1981, dirigido por Robert Redford, a partir de roteiro adaptado ao livro "Ordinary People", de Judith Guest. Poder-se-ia, nesse caso, parodiar a chamada constante no cartaz de "Amantes": o melhor drama americano do ano ...



As alternâncias afetivas de Leonard (Joaquin Phoenix), ora com Michelle Rausch (Gwyneth Paltrow) ora com Sandra Cohen (Vinessa Shaw), tem tantas reviravoltas quantas as necessárias para levar o filme ao decurso de tempo requerido para fazer crer a quem o assiste de que Leonard terminará com Michelle. Mas não: terminará mesmo é com Sandra. Resenhando: duas mulheres em disputa por um homem indefinido e problemático, espécie eloquente de herói picaresco menor !

Paralelos ? Preferível a adaptação primorosa de Luchino Visconti para "Noites Brancas", do texto homônimo de Dostoiévski, com inversão no diferencial em disputa: dois homens - um dos quais nada menos que Marcelo Mastroianni - por uma mesma dama. E Mastroianni não levará a melhor, como se poderia supor a princípio.



Por conseguinte, não consegui inferir as razões pelas quais os críticos têm cotado a película em questão com quatro estrelas. Somente eles poderão dizê-lo ! Quanto a mim, no estoque considerável de filmes presenciados, apenas mais um !

(JAR/HC)